Há duas semanas aconteceu um milagre na minha garagem. Imagine você que um beija-flor resolveu fazer o seu ninho, num arbusto de meio metro, exatamente ao lado de onde paro o meu carro.
Foi o Wallace, meu amigo e porteiro quem me avisou.
Desde então, a vida do edifício Itapoan gira em torno dessa preciosidade.
A beija-flor, esse bicho tenso, está cada dia mais mansa. Inabalável. Você pode chegar a 20cm do ninho, às vezes menos, e nada. Ela está lá, impávida colosso. Dia e noite, chuva, vento ou sol, esquentando seus ovinhos, dois, que são mais ou menos do tamanho de um M&M’s de amendoim.
Todos os dias, minha maior alegria é vê-la nas horas de saída e chegada. E confesso que demorei bem uma semana para que um aperto no peito cedesse à quase normalidade. Quase, porque diante de tamanha beleza, do tamanho insignificante de uma xicrinha de café, não há coração de pedra que resista.
Uma manhã, na saída, Wallace me avisou que os filhotes nasceram. Ah!...
Dois dias depois não havia ninguém no ninho e minha sensação de abandono foi de debutante de filme americano que toma um perdido no dia do baile – se é que a gente, que graças a Deus tem outra cultura, pode imaginar o que é isso. Mais tarde, de noite, estava ela lá de volta, em cima dos seus bichinhos.
Não estou preparada para perdê-la. Nunca mais estarei. Eu que nunca fui mãe, nunca esperei por nada, amoleço a cada dia, estupefata com a serenidade da beija-flor, com a enormidade da sua placidez - esse bicho naturalmente desarvorado de excitação -, e aprendo.
PS: Se você clicar na imagem vai ver a merrequinha em tamanho giga!
Um comentário:
é uma pérola.
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